Hibridismo cultural

A propósito do tema hibridismo cultural mencionado também por Bakhtin, Hall, Canclini, Said; o autor Souza (2004, p. 1) descreve que

a hibridização não é algo que apenas existe por aí, não é algo a ser encontrado num objeto ou em alguma identidade mítica ‘híbrida’ – trata-se de um modo de conhecimento, um processo para entender ou perceber o movimento de trânsito ou de transição ambíguo e tenso que necessariamente acompanha qualquer tipo de transformação social sem a promessa de clausura celebratória, sem a transcendência das condições complexas, conflitantes, que acompanham o ato de tradução cultural (Bhabha, H.K. 2002(b)).

Deste modo, o conjunto de valores da cultura colonizadora e da cultura colonizada coexistem simultaneamente, mesmo sendo dois conjuntos desiguais de valores e verdades. A significação que o texto aponta e a análise da imagem se prende a uma apreciação imediata de significantes e significados. A linguagem pode ser absolutamente transparente (denotativa), mas sempre será também conotativa, e está envolta na história. O artifício da linguagem não consegue apagar o que o Bhabha relata: estes próprios discursos constroem novos discursos.

Na análise ideológica, estuda-se que o sujeito (referente) está fora do texto e, que o ato de enunciação está marcado por atos exteriores (onde, quando, para quem. Segundo Souza (2004, p. 7) a enunciação “se refere ao contexto socio-histórico e ideológico dentro do qual um determinado locutor ou usuário da linguagem está sempre localizado”, e o enunciado “se refere à fala ou ao texto produzidos por esse locutor nesse contexto”. Ou seja, a enunciação é sinônimo de discurso, modo (forma) como se diz, leva as perguntas: quem? Onde? (em que circunstâncias). Por quê? Para que? E o enunciado é como o texto diz, sinônimo de história, produz o conteúdo.

Por discurso entende-se um conjunto de ideias, falas, implícitos relativos a construção de representações; construção de sentidos através da linguagem; ato de linguagem; construção de sentido e disputa de poder; analisado pela construção de conteúdos. Já os campos discursivos constroem efeitos de sentido através da linguagem (ex.: persuasão, compartilhamento, compreensão). O discurso é um conjunto de todas as instâncias públicas e privadas que conferem legitimidade (concepção) a toda a comunidade. Assim como a arte consegue dar forma às ações e emoções humanas, pois são sentimentos (sentidos) iguais a todos os seres humanos.

Para concluir, vimos que é a partir de sua busca por uma semiologia pós-colonial, entendido como um modo de conhecimento onde a questão da linguagem é fundamental, que os vários enfoques da produção teórica de Bhabha se juntam: a representação, a identidade, a tradução cultural – todos reunidos pelo mesmo elemento que os permeia e os constitui, justamente porque se trata de uma característica não apenas da língua, mas de todas as linguagens: o hibridismo. (SOUZA, 2004, p. 23).

Enfim, os espaços híbridos constituem o todo da sociedade, sua linguagem e suas representações de identidades culturais híbridas.

Referências

BAKTHIN, Mikhail. Marxisimo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2006.

CANCLINI, Nestor Garcia. Globalização imaginada. São Paulo: Iluminarias, 2004.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro, RJ: DP&A, 2006.

SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo, SP: Companhia de Bolso, 2007.

SOUZA, Lynn M.T. de. Hibridismo e tradução cultural em Bhabha. In: Abdala Jr. Benjamim (Org.) Margens da cultura: mestiçagem, hibridismo e outras misturas. São Paulo: Boitempo, 2004, p. 113-133. Disponível em < http://usp-br.academia.edu/LynnMarioMenezesdeSouza/Papers/304702/Hibridismo_e_Traducao_Cultural_em_Bhabha> Acesso em 29/04/2011

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