Uma coleção de sonhos e “uma história de muitas histórias”

Uma coleção de sonhos e “uma história de muitas histórias”[1]

A partir da leitura de Benjamin (1994, 2011) e de Dantas (2009) pode-se refletir sobre a experiência da criação de imagens na composição de um colecionador. Na galeria de objetos (muitas vezes simples objetos do cotidiano) formam-se coleções que envolvem imagens, cores, materiais, objetos mágicos, ordem e desordem, reúnem histórias do passado e do presente.

Neste presente texto, final da disciplina, se propõe a desvelar a percepção de uma (nova) forma de colecionar imagens e escritos: o Facebook. A inserção do Facebook no mundo contemporâneo dispensa comentários. Contudo, é importante vislumbrar um caminho de experiências e possibilidades de criação e composição de imagens, cujo contexto de post está estreitamente relacionado à memória e à história.

Para analisar esta experiência de criação de imagens escolhi a fanpage da 60ª Feira do Livro de Porto Alegre, de 2014.

Figura 1 – Capa Facebook Feira do Livro de Porto Alegre 2014

Na figura 1 observa-se a imagem do logo da edição da feira, um livro de folhas abertas que simboliza uma árvore, cujos frutos são letras. Verde e fuccia, dão colorido a imagem. E, ao fundo da página um livro aberto com palavras sobre vida, vê-se a palavra “sonhos”  circulada com caneta. Detalhes, com certeza, muito pensados e elaborados para dar realmente (mais) vida a Praça da Alfândega, no centro histórico da capital. A coleção de elementos e imagens que o Facebook propõe organizar destaca os sonhos que os livros trazem consigo.

Além de oferecer obras de todos os gêneros, a feira também contempla uma programação cultural, com atividades com escritores, ilustradores, cantores, contadores de histórias, diversos artistas, entre outros.

Figura 2 – último dia da Feira do Livro

Com 21 193 curtidas, a fanpage apresenta uma coleção de fatos e fotos do dia a dia agitado da feira, as figuras 2 e 3 apresentam imagens do último dia.

Figura 3 – Encerramento da Feira do Livro

O melhor lugar do mundo de uma feira para ficar na história, imagens que carregam experiências e consideram a representação criativa, abusando dos sentidos e coloridos da feira.

O colecionador responsável por organizar as imagens da feira, transforma a memória e história individuais dos frequentadores, artistas e vendedores da feira na memória e história de uma coletividade da feira. Uma coleção de fotos e uma legenda que identifique o momento. Uma nova coleção e uma nova legenda. E, assim, vão dia a após dia sendo incluídas muitos elementos nesta coleção.

A coleção de imagens e vídeos da #feiradolivro é uma coleção que facilmente será encontrada em vários mecanismos usuais de busca. E, vale lembrar que o Facebook ainda possibilita um direto compartilhamento, no canto inferior da figura 4 observa-se que esta figura obteve 81 compartilhamentos. Esta imagem fica registrada no tempo-espaço de outras 81 coleções individuais.

Figura 4 – Vídeo do último dia da Feira do Livro

Ao longo dos dias de publicações no Facebook, os posts foram “conversando” e instigando o desejo de participação no evento. Aumentando assim, a “necessidade” de acompanhamento das atualizações da coleção.

Assim, observa-se que o consumo de uma coleção consiste em uma relação ativa, estabelecida entre o tempo, a pessoa e os objetos. E, no post final, o colecionador agradece: “Obrigado a todos por esta Feira incrível, maravilhosa, democrática, transformadora, grandiosa, efervescente, mobilizadora, emocionante, festiva, gaúcha, aberta, fabulosa e majestosa”.

Para finalizar, uma citação de Benjamin (2011, p. 197) que achei perfeita para finalizar as experiências das imagens: “Estou desempacotando minha biblioteca. Sim, estou. Os livros, portanto, ainda não estão nas estantes; o suave tédio da ordem ainda não os envolve. Tampouco posso passar ao longo de suas fileiras para, na presença de ouvintes amigos, revista-los. Nada disso vocês têm que temer. Ao contrário, devo pedir-lhes que se transfiram comigo para a desordem de caixotes abertos à força, para o ar cheio de pó de madeira, para o chão coberto de papéis rasgados, por entre as pilhas de volumes trazidos de novo à luz do dia após uma escuridão de dois anos justamente, a fim de, desde o início, compartilhar comigo um pouco da disposição de espírito – certamente não elegíaca, mas, antes, tensa – que estes livros despertam no autêntico colecionar. Pois quem lhes fala é um deles, e, no fundo está falando de si”.

Referências:

BENJAMIN, Walter. Desempacotando a minha biblioteca. Um discurso sobre o colecionador. In: _____. Rua de mão única (Obras escolhidas II). São Paulo: Brasiliense, 2011, p. 197-221.

BENJAMIN, Walter. Livros infantis antigos e esquecidos. História cultural do brinquedo. In: _____. Magia e técnica, arte e política (Obras escolhidas I). São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 235-248.

DANTAS, Marta. A fundação do novo mundo. A criação do mundo encantado. In: _____. Arthur Bispo do Rosário. A poética do delírio. São Paulo: UNESP, 2009, p. 92-122.


[1] Slogan da 60ª Feira do Livro de Porto Alegre, 31 de outubro a 16 de novembro de 2014.

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