Gina Indelicada: entre posts e palitos

A partir da leitura de Deleuze (1992), Fabris (2009) e de Foucault (2004) pode-se refletir sobre a experiência da imagem e a experiência de si explorando as fronteiras entre ficção e realidade, com combinação entre textos e imagens.

Tentando uma aproximação destes conceitos com o consumo da internet, pode-se observar que as redes sociais propiciam possibilidades de narrar histórias e situações que recriam a vida cotidiana, seja de si mesma ou dos outros.

Na figura 1 tem-se a capa da fanpage da personagem “Gina Indelicada” que conta atualmente com 4 429 591 curtidas.

Figura 2 – Criação da Gina Indelicada – 2012. Fonte: https://www.facebook.com/GinaIndelicada

Esta página foi criada em 14 de agosto de 2012 (figura 2) por Henrique Lopes, estudante de publicidade que mora em São Paulo. E, em uma semana, 24/08/2012, já possuía 1,6 milhões de curtidas (figura 3).

Figura 3 – Uma semana de Gina Indelicada – 2012. Fonte: https://www.facebook.com/GinaIndelicada

Henrique utilizou-se da imagem da “garota-propaganda” de uma marca de palitos para criar uma personagem que utiliza de humor e linguagem simples. O foco principal no início da página eram os textos que reproduziam formas e procedimentos característicos de um diálogo entre a personagem e supostas pessoas que interagiam com a página enviando perguntas sobre o cotidiano, conforme ilustra a figura 4.

Figura 4 – Perguntas Gina Indelicada – 2012. Fonte: https://www.facebook.com/GinaIndelicada

Atualmente a personagem também fala de conscientização, como a luta contra o câncer e, acrescentou fotografias de pessoas, locais e de textos de outras redes sociais para compor os post que contam a história cotidiana da Gina. Ao utilizar imagens como referências dos textos, a personagem tanto induz o leitor a compreender a imagem conforme a sugestão do texto, como a construir um sentido particular para uma determinada imagem, que motiva muitos comentários, curtidas e compartilhamentos na rede social.

Cada post constitui uma via de mão dupla estabelecida pelo autor e pelo leitor. A imagem principal da personagem Gina (que continua igual a do palito, mas que ganhou uma atualizada digital) atua como fragmento das memórias e relatos fictícios autobiográficos, que são continuamente compartilhados pelos seguidores da página.

Referências:

DELEUZE, Gilles. A vida como obra de arte. In: _____. Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 118-126.

FABRIS, Annateresa. Sophie Calle: entre imagens e palavras. ARS (São Paulo). 2009, vol.7, n.14, pp. 68-85.

Texto disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ars/v7n14/v7n14a06.pdf

FOUCAULT, Michel. Uma estética da existência. In: _____. Ditos e Escritos V. Ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004a, p. 288-293.

FOUCAULT. Michel. A ética do cuidado de si como prática da liberdade. In: _____. Ditos e Escritos V. Ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004b, p. 264-287.

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