Para debater o tema Diversidade Cultural com foco no discurso global de elites engajadas na cooperação internacional e na governança global, Ribeiro (2009) descreve os seguintes pontos:
- Globalização e diversidade: relações entre estes dois temas devido às políticas da diferença a as lutas contemporâneas; ideologias de pluralismo e multiculturalismo, universalismo e particularismo; tensões entre forças centralizadoras e descentralizadoras; reprodução ou contestação da hegemonia, a diversalidade (expressão de Walter Mignolo que significa entender a diversidade enquanto um projeto universal); entre outras. O autor descreve que “existem diferentes tipos de “diversidade”, situados em dois grandes campos definidos pela presença preeminente de interesses políticos ou gerenciais. A diversidade pode, portanto, tornar-se uma grande prioridade para formuladores de políticas públicas, interessados na resolução de conflitos ou em iniciativas de desenvolvimento (ver The World Bank, 2001: 42 e Marc, 2005), assim como para ativistas políticos interessados nas lutas por sobrevivência de povos nativos ou no fortalecimento da sociedade civil global (ver Gaventa, 2001: 280 e a Carta de Princípios do Fórum Social Mundial – http://www.forumsocialmundial.org.br, por exemplo)” (RIBEIRO, 2009, online).
- Particulares, Universais e Cosmopolíticas: relações entre estes três temas com a questão do relativismo cultural. O autor destaca a distinção entre cultura (atributos universais compartilhados por todos os seres humanos) e culturas (concretas de tais atributos em incontáveis contextos históricos e geográficas);
- Três particularismos: particularismos locais (grupo de pessoas de determinado local), particularismos trans-locais (pessoas e culturas de diversos locais) e particularismos cosmopolitas (cidadão do mundo com tolerância, compreensão, inclusão e convivência). Todos híbridos e que podem variar de acordo com: “(a) as diferentes maneiras que o papel da diferença e da igualdade é representado por atores sociais na construção de suas identidades; (b) os papéis que diferença e igualdade desempenham na construção de grandes unidades políticas”, (RIBEIRO, 2009, online). O autor também comenta sobre a distinção entre multiculturalismo (aceitação do que é heterogêneo) e interculturalidade (os diferentes são o que são em relações de negociação, conflitos e empréstimos recíprocos) conforme definido por Canclini (2004).
- Cosmopolíticas: “consistem em matrizes discursivas intrinsecamente relacionadas a interpretações e ações políticas de alcance global”, (RIBEIRO, 2009, online);
- Discursos Fraternos Globais: exemplos de discursos e conceitos que “alcançaram” o âmbito global => diversidade cultural, desenvolvimento sustentável, criatividade e inovação, direitos humanos, inclusão, participação, patrimônio mundial, desenvolvimento, entre outros;
- Diversidade Cultural e os Limites da Pretensão Universal de Discursos Globais: o autor analisa neste tópico dois discursos globais: direitos humanos e desenvolvimento;
- Patrimônio Mundial e Valor Universal Excepcional: o autor explica que o valor universal excepcional refere-se a quem/o que é universal e merece fazer parte do patrimônio mundial, ou seja, que transcende o espaço/tempo local. Como patrimônio mundial, eram consideradas as melhores realizações da humanidade e as maravilhas naturais mundiais, mas, atualmente abrange também a diversidade cultural das comunidades locais. E, assim, o autor comenta que também está cada vez mais complicado ter uma única noção de Valor Universal Excepcional;
- Algumas considerações e temas: para finalizar o autor reforça a importância de se atentar nas tensões entre local x global. A dificuldade de interpretação entre conceitos x fenômenos e, portanto, relacionadas à interpretação dos termos “direitos humanos”, “Valor Universal Excepcional”, desenvolvimento, etc.
Afinal, como estudantes de diversidade e inclusão é muito importante elencar em nossas pesquisas esta visão: “para seguir em frente em um mundo globalizado, onde multiculturalismo é cada vez mais uma questão política transnacional, devemos admitir que visões políticas baseadas na universalização de “particularismos locais” estão ultrapassadas e condenadas a falhar. Ao contrário, perspectivas muito mais abertas devem ser formadas, visões que sejam sensíveis a diferentes contextos culturais e políticos, e fundamentalmente, à diversalidade” (RIBEIRO, 2009, online).
Este artigo é de fácil leitura, mas, é muito instigante.
RIBEIRO, Gustavo Lins. Diversidade Cultural enquanto Discurso Global. Avá n.15 Posadas dic. 2009.