Amazon Go, acesso e paçoquinhas

Na semana passada, uma matéria da Business Insider noticiou que a Amazon Go, o modelo que hoje é um dos principais benchmarks para as operações autônomas de varejo e tem um audacioso projeto de mais de 3 mil lojas até 2021, estaria sendo forçada a considerar aceitar dinheiro em espécie para pagamentos, uma vez que processos e denúncias vem acontecendo em diversas cidades e estados norte-americanos, até mesmo com projetos de lei banindo o modelo de negócio adotado.

O motivo alegado é que lojas como a Amazon Go, que não utilizam dinheiro em transações (cashless stores), impediriam que pessoas não bancarizadas, e, portanto, sem acesso a cartões de crédito ou a meios de pagamento digitais para realizar suas compras, entrassem ou consumissem nessas lojas.

E se nos EUA a população não bancarizada representa cerca de 6,7%, segundo dados de 2017, o que dizer da população não bancarizada brasileira, que representa cerca de 40%?

A partir da situação da população não bancarizada no Brasil, vale a pena entender essa situação frente alguns números que uma pesquisa da McKinsey, divulgada na semana passada, durante um evento no Vale do Silício, trouxe sobre a realidade do consumidor digital brasileiro.

O estudo apontou que 67% da população brasileira hoje se encontra conectada, com acesso a internet, porém, a representatividade do e-commerce ainda está na casa dos 6%. Chama a atenção quando comparamos esses números com a China, onde, se por um lado, apenas 53% da população tem acesso a internet, o e-commerce já conquistou uma representatividade de mais de 20% sobre o total do varejo.

É fato (e não é novidade para mais ninguém) que os superapps chineses, como Alipay ou WeChat revolucionaram a maneira como o mercado chinês hoje consome. Boa parte de seu sucesso está em ter conseguido se consolidar também nas camadas mais baixas da população, assim como se tornar o principal meio de pagamento até mesmo nas compras mais banais, como na aquisição de algum lanche ou bebida na rua, onde mesmo o dinheiro pequeno, se torna cada vez mais escasso.

O desafio brasileiro não está em buscar mais 1 ou 2% de crescimento na representatividade do digital dentro do que vem sendo feito até hoje. Não se trata de criar cultura ou realizar mais propaganda. Trata-se de buscar alguma alternativa que favoreça o acesso da população que hoje já se encontra no digital e ainda não possui meios para consumir.

E não que o brasileiro não se sinta familiarizado com o ambiente digital. Se tomarmos como parâmetro as redes sociais, o Brasil é sempre um dos principais países em praticamente todas as maiores plataformas. Só no caso do WhatsApp, por exemplo, somos uma base de 120 milhões de usuários, presentes em 91% dos telefones brasileiros, a segunda maior base do mundo.

O que falta hoje é alguma plataforma ou meio de pagamento que empodere essa população não atendida, com consumos de R$ 1 ou R$ 2, ou empréstimos de R$ 5 ou R$ 10. Que lidere a transformação digital do pequeno dinheiro que roda nas periferias e rincões brasileiros.

Há cerca de um ano, recebi a informação de que o WhatsApp, por exemplo, já trabalhava em testes na Índia com a troca de dinheiro entre pessoas via o aplicativo, algo que começa agora a ser enunciado como questão de tempo para vir para o Brasil. Imagine começar a jogar no mercado, com uma base de 120 milhões de aplicativos já instalados? Dá para imaginar o tamanho da revolução que isso causaria.

Aí você começa a se perguntar sobre o título desse artigo. Por que paçoquinha?

Tem grandes chances de ganhar o jogo por aqui quem conseguir resolver a banalidade de se comprar uma paçoquinha na banca da esquina usando um meio de pagamento digital.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s