Toda casa tem um. E pelo menos desde “Branca de Neve”, as histórias de terror também. Trata-se de “O Espelho”, objeto-fetiche do novo filme de terror do diretor Mike Flanagan (“Absentia”).
“O incrível sobre os espelhos é que eles são completamente onipresentes”, observou o cineasta em conversa com a imprensa. “Muitas vezes é a nossa primeira interação no começo do dia. Todos nós olhamos para ele e baseamos toda a nossa imagem no que é visto nele. Além disso, na tradição judaica o espelho é coberto nos funerais para impedir que as almas voltem, e isso para mim é algo aterrorizante.”
Usar o espelho em longas de terror não é algo novo no gênero, mas Flanagan acredita que, até seu filme, ele nunca tinha sido o protagonista de uma história.
“Adoro muitos filmes que usam o espelho como ferramenta de efeito, como ‘Mistério no Bosque’ (1980) e ‘Príncipe das Sombras’ (1987). Mas fazer um filme em que ele seja o centro das atenções é difícil por causa da reação das pessoas. Quando você fala que o filme é sobre um espelho, elas respondem: ‘Um espelho?, Sério’, ‘O que há de tão assustador nele?’. Gostei desse desafio, de pegar um objeto e construir algo assustador em torno dele.”
O cineasta tem como fonte de inspiração para o seu trabalho, as obras do escritor Stephen King, tanto que batizou o espelho do seu filme como Hotel Overlook portátil, em referência ao cenário de “O Iluminado” – um hotel assombrado que leva seu zelador a ter um surto psicótico. “É como se você pudesse pegar o espelho e colocá-lo em qualquer lugar do hotel… Em cada quarto que fosse deixado, teria sempre uma história diferente de acordo com a pessoa que é refletida nele.”
Segundo o diretor, dessa forma é possível contar sempre histórias novas e isso chegou a ser planejado para “O Espelho”, como uma antologia. “No começo, pensamos nisso, em fazer três filmes de 30 minutos cada, todos conectadas pelo mesmo espelho”. Mas isso acabou deixado de lado pelo diretor.
Todas essas ideias são derivadas de um curta realizado por Flanagan em 2006, intitulado “Oculus: Chapter 3 – The Man with the Plan”. Foi um desafio para ele expandir a história para um longa-metragem. “O curta era simplesmente sobre um homem dentro de um quarto. Foi difícil transformar isso em um longa sem tornar algo entediante. A grande sacada foi não refilmar o curta, mas fazer algo diferente com a premissa, mas isso levou sete anos para acontecer.”
No longa, a trama é protagonizada pelos irmãos Kaylie (Karen Gillan, da série “Doctor Who”) e Tim (Brenton Thwaites, de “Malévola”). Ela acredita que seus pais morreram por causa do espelho, que incriminou seu irmão pelo crime. Quando o jovem sai da prisão, ela apresenta seu plano para provar que o espelho foi responsável por tudo de ruim em suas vidas.
“Kaylie é um personagem interessante”, declarou Gillan. “Em vez de fugir da ameaça, ela corre em direção a ela. Coisas piores vão acontecendo e ela fica cada vez mais interessada e vai percebendo que tudo em que acredita é verdade.”
O papel de Kaylie foi escrito especialmente para Gillan, graças ao seu trabalho na série “Doctor Who”, do qual o roteirista e diretor é fã. “A personagem é uma heroína, a mais preparada para enfrentar os males do espelho. Não há muitas atrizes fortes como Karen. É difícil pensar nela como uma vítima”, descreve Flannagan.
Essa foi uma ótima experiência para a atriz escocesa, que adora produções do gênero. “É um sonho para mim fazer um filme de terror americano. ‘O Iluminado’, ‘O Exorcista’, ‘O Chamado’ e ‘Pânico’ são meus filmes favoritos.”
O diretor também compartilha desse gosto, mas hoje em dia é difícil ele se assustar com algum longa. “À medida que fui crescendo, ficou realmente difícil me assustar. Mas de vez em quando eu tropeço em filmes estrangeiros ou independentes, que me perturbam. ‘Session 9’, ‘Lake Mungo’ e ‘Martyrs’ foram um soco no estômago. Tenho contato com esses pequenos filmes, fico empolgado, mostro para outras pessoas e digo: ‘quero fazer filmes que atendam às expectativas dos fãs de terror que se cansaram do gênero que amam.’”
Além de ser um entusiasta, Flanagan é um dos representantes da atual geração de realizadores de filmes de terror de baixo orçamento, que tem sido ajudados pelo maior produtor do segmento, Jason Blum, responsável por dar vida à franquias de sucesso como “Atividade Paranormal” e “Sobrenatural”.
“Uma das coisas que Jason Blum trouxe para esse negócio foi mostrar às pessoas que os filmes feitos em menor escala podem não só encontrar o seu público, como também serem grandes sucessos. Você não precisa ter grandes estrelas e gastar uma tonelada de dinheiro para manter um gênero bem sucedido. Isso é incrível. Como fã, sinto que há um monte de filmes pequenos e empolgantes de terror para verem a luz e desejo que eles tenham um grande lançamento.”
“Oculus” é um desses sucesso. Filmado por apenas US$ 5 milhões, fez cinco vezes isso nos EUA e já soma US$ 40 milhões em todo o mundo. Além disso, conquistou a crítica, que costuma virar as costas para o gênero. Graças a isso, a carreira do cineasta ganhou novo impulso, tornando-o um nome para se acompanhar de perto. E ele já tem um novo terror engatilhado.
“Acabei de terminar ‘Somnia’, que é um projeto muito especial para mim. Levei seis anos para fazê-lo e foi mais desafiador que ‘O Espelho’. Ele é centrado em um menino cujos sonhos e pesadelos se manifestam fisicamente em torno dele. Além disso, estou envolvido na pré-produção de ‘Diver’, que é um thriller sobrenatural. Vou fazer um filme atrás do outro enquanto me permitirem”, revelou Flanagan, tão ameaçador quanto “O Espelho”.
Fonte:
05/07/2014
http://pipocamoderna.virgula.uol.com.br/o-espelho-revela-seus-misterios/316577