Nos principais centros do mundo o uso de bicicletas alugadas já se tornou habitual a partir de um modelo básico de disponibilização em postos com auto-serviço espalhados pela cidade. Em Paris e em algumas outras cidades europeias já se avança para modelo similar, porém, com carros.
Na França, a rede Intermarché iniciou a locação de eletrodomésticos e eletrônicos e na Holanda é possível o aluguel de calças jeans que podem ser devolvidas ou compradas em definitivo como mostrou matéria do Wall Street Journal recentemente. Nos Estados Unidos e diversos outros países, incluindo o Brasil, já é habitual a locação de ferramentas usadas para serviços eventuais, quando não compensa a compra.
Carros, motos, barcos, trailers e caminhões sempre tiveram opções de serem alugados por períodos mais curtos ou longos e uma ampla indústria foi criada para desenvolver o negócio em todo o mundo.
A diferença que dá destaque ao tema envolve as categorias e produtos oferecidos e os modelos de negócio praticados com intenso uso de tecnologia e a oferta em maior escala, exemplificado pelos postos de locação de bicicletas.
Se a locação de roupas na Europa é motivada por razões mais econômicas do que comportamentais, em uma outra dimensão, mais ampla e estrutural, poderíamos estar caracterizando o surgimento do consumidor-locatário, aquele que ao invés de comprar prefere alugar.
Pode ser por conveniência, facilidade, praticidade, desinteresse pela posse do bem, racionalidade, opção pela sustentabilidade ou mesmo, simplesmente, pela motivação econômica de, não podendo comprar, optar pela locação por um determinado período, mais longo ou mais curto, com posterior devolução ou opção pela compra e posse definitiva.
O crescimento do negócio de locação de bens de consumo pelo consumidor-locatário poderá criar uma nova realidade no mercado, em especial nas economias mais maduras, como se percebe por sua expansão nos países europeus, no Japão e nos Estados Unidos, mas poderá se expandir também para outras economias menos maduras à medida que modelos de negócios sejam criados incentivando sua prática e colocando mais conveniência na vida das pessoas, como o modelo desenvolvido para as bicicletas e, agora, dos carros.
Nessa realidade emergente haverá profundas mudanças estruturais no mercado com o surgimento de novos agentes e modelos de negócio, sem dúvida mais sustentáveis, e também pela mudança das relações entre a marca do produto, o varejo e o consumidor-locatário, pois o vínculo ocorrerá muito mais com o prestador do serviço e o que é oferecido. Quem presta atenção para a marca da bicicleta que é oferecida nas principais cidades?
Essa transformação estrutural está alinhada com a migração de parcela crescente das despesas das famílias, em especial em economias mais maduras, da compra de produtos para dispêndios com serviços, movimento estratégico que avança de forma irreversível em todo o Mundo, desenhando um novo e mais complexo cenário.
Marcos Gouvêa de Souza diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza.
09/12/2013 – http://www.gsmd.com.br/pt/eventos/momentum/o-consumidor-locatario